Se você é tutor de cachorro, provavelmente já ouviu falar sobre cinomose. Essa doença é séria, altamente contagiosa e pode deixar qualquer dono de pet preocupado.
Mas calma, a ideia aqui é te explicar tudo sobre ela de forma simples e prática, para que você saiba como identificar, prevenir e, se necessário, tratar a cinomose no seu melhor amigo.
O que é cinomose?
A cinomose é uma doença viral super séria que afeta principalmente os cães. Ela é causada por um vírus chamado CDV (Canine Distemper Virus), que faz parte da mesma família dos vírus do sarampo e da peste bovina.
Essa doença é altamente contagiosa e ataca o sistema imunológico do cachorro, podendo causar problemas respiratórios, gastrointestinais e até neurológicos.
O vírus é transmitido bem fácil: através do contato direto com secreções de outros cães infectados, como saliva, urina ou fezes.
Além disso, objetos contaminados, como tigelas de comida ou brinquedos, também podem espalhar o vírus.
Uma vez infectado, o cachorro pode demorar até 14 dias para mostrar os primeiros sinais, que muitas vezes incluem febre, espirros, vômitos e, nos casos mais graves, convulsões.
A cinomose é perigosa porque não existe cura definitiva para ela. O tratamento é baseado em aliviar os sintomas e fortalecer o sistema imunológico do cachorro.
Por isso, a vacinação é essencial para prevenir essa doença e salvar a vida do seu amigo peludo.
Histórico e distribuição global
A cinomose foi descoberta no início do século 20 e, desde então, tem sido um grande desafio para veterinários e donos de cães ao redor do mundo. Ela começou a ser identificada em populações de cães domésticos na Europa, mas logo se espalhou para outros continentes.
Hoje, a cinomose é uma doença global. Ela atinge não só cães domésticos, mas também animais selvagens, como raposas, lobos e até felinos grandes, como leões.
Em países em desenvolvimento, onde a vacinação não é amplamente acessível, os surtos de cinomose são mais comuns e devastadores. Na América Latina, por exemplo, a falta de controle vacinal torna a doença uma preocupação constante.

O vírus da cinomose é adaptável e consegue sobreviver em várias condições ambientais. Ele é mais prevalente em áreas com grandes populações de cães não vacinados, mas também pode surgir em países desenvolvidos, especialmente em comunidades onde a vacinação é negligenciada.
Isso mostra que, enquanto houver cães sem vacina, a cinomose continuará sendo uma ameaça real.
Além disso, cientistas vêm estudando mutações no vírus que podem torná-lo ainda mais agressivo. Isso reforça a importância de manter as campanhas de vacinação e conscientização, tanto para os pets quanto para a fauna silvestre, já que a cinomose também afeta o equilíbrio dos ecossistemas.
O vírus da cinomose canina (Canine Distemper Virus – CDV)
O Canine Distemper Virus (CDV) é o grande vilão por trás da cinomose. Ele faz parte da família Paramyxoviridae, a mesma dos vírus que causam o sarampo em humanos e a peste bovina.
Esse vírus é super contagioso e afeta principalmente cães, mas também pode infectar outros animais, como raposas, lobos e até felinos selvagens.
O CDV tem uma predileção por atacar o sistema imunológico do animal, o que o torna ainda mais perigoso. Ele entra no corpo do cachorro geralmente pelas vias respiratórias, usando o nariz e a garganta como porta de entrada.
Uma vez dentro, o vírus se espalha rapidamente, atingindo linfonodos, sangue e órgãos vitais, como pulmões e cérebro.
O problema é que, ao suprimir o sistema imunológico, o vírus deixa o cachorro vulnerável a outras infecções secundárias, o que complica ainda mais o tratamento.
O CDV é resistente e pode sobreviver por um bom tempo em ambientes com pouca luz e alta umidade, mas é sensível a desinfetantes comuns, o que ajuda a controlar surtos em locais como clínicas veterinárias.
Características do vírus

O CDV é um vírus envelopado, ou seja, ele possui uma “capa” externa feita de lipídios. Essa característica torna o vírus sensível a altas temperaturas, luz solar direta e desinfetantes, mas também permite que ele se esconda bem dentro das células do hospedeiro. Sua estrutura genética é composta por RNA de fita simples, o que significa que ele é altamente mutável. Essas mutações ajudam o vírus a se adaptar a diferentes hospedeiros e ambientes, o que dificulta o controle e prevenção em algumas regiões.
Outra característica importante do CDV é sua afinidade por tecidos específicos no corpo do cachorro. Ele tem preferência por:
- Tecido linfático: Aqui, ele começa a destruir o sistema imunológico.
- Sistema respiratório: Causa sintomas como tosse e secreções nasais.
- Sistema nervoso central: Em estágios avançados, o vírus pode levar a tremores, convulsões e até paralisia.
Além disso, o vírus é transmitido principalmente por secreções respiratórias (como espirros ou tosses), mas também pode ser encontrado na urina, fezes e até na saliva de animais infectados. Esse modo de transmissão torna os surtos mais comuns em lugares com muitos cães vivendo juntos, como abrigos e canis.
Em resumo, o CDV é um vírus agressivo e adaptável, mas pode ser controlado com vacinação adequada e medidas de higiene. Sem prevenção, os danos causados pela cinomose podem ser devastadores, tanto para os cães quanto para a fauna silvestre.
Principais formas de contágio da cinomose
A transmissão da cinomose ocorre principalmente de forma direta, ou seja, de um animal infectado para outro saudável. O vírus é espalhado através de secreções respiratórias, como espirros, tosse ou até mesmo pelo contato com saliva.
Além disso, ele pode estar presente em urina e fezes, o que significa que cães que dividem o mesmo ambiente têm maior risco de infecção.
Mas não para por aí: o contato indireto também é uma ameaça. Objetos contaminados, como tigelas de comida, brinquedos ou até roupas de pessoas que tiveram contato com cães infectados, podem carregar o vírus.
Como o CDV é sensível a condições externas como calor e luz solar, ele não sobrevive muito tempo fora do hospedeiro. Ainda assim, em locais frios e úmidos, o vírus pode resistir por horas ou até dias.
Por isso, ambientes com muitos cães, como abrigos, pet shops e canis, são locais onde a cinomose se espalha com mais facilidade.
A falta de higiene nesses espaços pode transformar pequenos surtos em grandes epidemias rapidamente.
Fatores de risco

Existem alguns fatores que aumentam bastante as chances de um cachorro contrair cinomose. Os principais incluem:
- Falta de vacinação: Cães não vacinados ou com a vacinação atrasada são os mais vulneráveis. A vacina contra cinomose é extremamente eficaz, mas muitos tutores ainda deixam de aplicá-la, especialmente em áreas de baixa renda.
- Idade: Filhotes e cães idosos são mais suscetíveis. Filhotes ainda estão desenvolvendo seu sistema imunológico, enquanto cães mais velhos têm um sistema menos eficiente.
- Ambientes lotados ou insalubres: Canis, abrigos e pet shops com muitos cães no mesmo espaço aumentam as chances de contato com o vírus.
- Condições imunológicas: Cães com imunidade baixa, seja por má alimentação, estresse ou outras doenças, têm maior dificuldade em combater o vírus caso sejam expostos.
- Exposição a animais selvagens: O vírus também é encontrado em raposas, lobos e outros animais silvestres. Cães que vivem próximos a áreas florestais ou rurais podem ter contato com esses animais e contrair a doença.
Esses fatores de risco reforçam a importância da vacinação e de boas práticas de higiene. Manter os cães em um ambiente limpo e evitar contato com cães de origem desconhecida são medidas simples, mas poderosas, para prevenir a cinomose.
As 7 fases da cinomose

Tabela com fases da Cinomose |
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Infecção inicial – O vírus entra no corpo do cão e começa a se multiplicar, geralmente atacando as amígdalas e os linfonodos. Nesta fase, é comum o animal apresentar febre moderada e perda de apetite. |
Fase respiratória – O vírus atinge o sistema respiratório, causando sintomas como tosse, espirros, secreção nasal e ocular. É nessa etapa que a cinomose pode ser confundida com um simples resfriado. |
Fase digestiva – O vírus se espalha para o sistema digestivo, causando vômitos e diarreia, muitas vezes com presença de sangue. A desidratação é um risco significativo nesta fase. |
Fase imunológica – O sistema imunológico do animal fica severamente comprometido, tornando-o mais suscetível a infecções secundárias, como pneumonia ou infecções de pele. |
Fase cutânea– Lesões na pele, como erupções e espessamento das almofadas das patas e do focinho, podem surgir. Essa fase é um sinal avançado da doença. |
Fase neurológica – O vírus atinge o sistema nervoso central, causando tremores, convulsões, paralisias e outros sinais neurológicos. Essa fase é extremamente grave e pode ser irreversível. |
Fase terminal– Na ausência de tratamento ou resposta do organismo, o cão pode chegar à fase terminal, caracterizada por falência múltipla dos órgãos e, infelizmente, óbito. |
Diagnóstico clínico da cinomose
O diagnóstico clínico é geralmente o primeiro passo para identificar a cinomose em um cão e envolve a observação dos sinais típicos das 7 fases da cinomose. O veterinário faz uma análise completa, verificando sintomas como:
- Febre persistente;
- Secreções nasais e oculares;
- Vômitos e diarreia;
- Tremores ou convulsões.
A avaliação clínica também leva em conta o histórico do animal, como vacinação atrasada ou exposição a outros cães infectados. Apesar disso, só o diagnóstico clínico pode não ser suficiente, já que muitos desses sinais podem ser confundidos com outras doenças.
Exames laboratoriais
Para confirmar a cinomose, são necessários exames laboratoriais, que ajudam a identificar o vírus ou os danos causados por ele. Os exames mais comuns incluem:
- Hemograma completo: Pode mostrar uma redução no número de glóbulos brancos, indicando comprometimento do sistema imunológico.
- Teste de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase): É o método mais confiável para detectar a presença do vírus CDV, identificando seu material genético.
- Teste sorológico: Mede a quantidade de anticorpos contra o CDV no sangue do animal.
- Exames de imagem, como radiografias, podem ser usados para avaliar danos no sistema respiratório ou nervoso.
Esses exames fornecem uma confirmação mais precisa, permitindo um tratamento direcionado e aumentando as chances de recuperação.
Tratamento da Cinomose
O tratamento da cinomose é principalmente focado em terapias de suporte, já que não existe um medicamento específico que elimine o vírus. O objetivo é aliviar os sintomas, fortalecer o sistema imunológico do cão e evitar complicações secundárias.
Veja abaixo algumas terapias de suporte :
Medicamentos para controle de sintomas: Incluem antieméticos (para vômitos), antidiarreicos e analgésicos, dependendo do quadro do animal.
Reposição de líquidos e eletrólitos: Para combater a desidratação causada por vômitos e diarreia.
Antibióticos: Embora não ataquem o vírus, eles previnem infecções bacterianas secundárias, que são comuns em cães com sistema imunológico enfraquecido.
Suplementos nutricionais: Para melhorar a imunidade e auxiliar na recuperação.
Medicamentos para controle de sintomas e suporte
Antibióticos (para evitar infecções secundárias bacterianas):
- Amoxicilina + Clavulanato (Clavulin® ou similares)
- Enrofloxacina (Baytril®)
- Doxiciclina (Vibramicina® ou similares)
Anticonvulsivantes (para tratar convulsões):
- Fenobarbital
- Diazepam (Valium® ou similares)
- Brometo de potássio
Antieméticos (para evitar vômitos):
- Metoclopramida (Plasil® ou similares)
- Ondansetrona
Reidratantes e eletrólitos:
- Soro Ringer Lactato (administrado via intravenosa)
- Soluções orais como Pedialyte® (para hidratação leve em casa)
Anti-inflamatórios:
- Prednisona (em casos graves, para reduzir inflamações no sistema nervoso)
Imunomoduladores e antivirais
- Interferon (ainda em estudo, mas usado para estimular o sistema imunológico):
- Virbagen Omega® (específico para animais)
- Antivirais (não específicos para cinomose, mas utilizados em casos experimentais):
- Ribavirina
Importante
- Sempre consulte um veterinário antes de usar qualquer medicamento.
- Evite automedicação, pois pode agravar os sintomas ou causar intoxicação.
- O tratamento é personalizado, então cada cão pode precisar de uma combinação diferente de medicamentos.
Vacinação
A vacinação é, sem dúvida, a forma mais eficaz de prevenir as 7 fases da cinomose. A vacina contra o CDV (Canine Distemper Virus) faz parte das vacinas obrigatórias para cães e deve ser administrada a partir de 6 a 8 semanas de idade, com reforços anuais.
É importante seguir o protocolo de vacinação recomendado pelo veterinário, que geralmente inclui a vacina polivalente (V8 ou V10), cobrindo não apenas a cinomose, mas outras doenças perigosas.
Cães vacinados corretamente têm uma chance muito menor de contrair a doença, mesmo quando expostos a ambientes de alto risco. Além disso, a vacinação em massa ajuda a criar uma barreira imunológica, protegendo cães não vacinados.
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Controle ambiental
Manter o ambiente limpo e livre de vírus é essencial para prevenir a cinomose. Algumas dicas importantes incluem:
- Higienização regular: Desinfetar o local onde os cães vivem, incluindo pisos, tigelas e brinquedos, com produtos adequados, como hipoclorito de sódio.
- Evitar o contato com cães desconhecidos: Especialmente em áreas públicas, onde o vírus pode estar presente.
- Isolamento de cães infectados: Se houver um caso de cinomose, é crucial isolar o animal imediatamente para evitar a contaminação de outros cães.
Além disso, locais úmidos e pouco ventilados podem ajudar o vírus a sobreviver por mais tempo, então é importante garantir que o ambiente seja seco e bem arejado.
Consequências para a saúde pública veterinária

A cinomose tem um impacto significativo na saúde pública veterinária devido à sua alta taxa de mortalidade e às dificuldades no controle da doença, especialmente em áreas com baixa cobertura vacinal. Embora não seja uma zoonose (não afeta humanos), as consequências são graves para os cães e, indiretamente, para a sociedade.
Principais consequências:
- Alta mortalidade em populações de cães
A cinomose é extremamente letal, especialmente em filhotes e cães não vacinados. Em surtos, pode causar a morte de grande parte de uma população canina em regiões afetadas. Isso gera sofrimento animal e perdas financeiras significativas para tutores e abrigos. - Risco para espécies selvagens
Além dos cães domésticos, o vírus da cinomose também atinge animais silvestres, como raposas, lobos e grandes felinos. Isso pode desequilibrar ecossistemas inteiros, especialmente em regiões onde essas espécies desempenham papéis ecológicos importantes. - Impacto financeiro
O tratamento da cinomose é longo e caro, e, muitas vezes, o desfecho não é favorável. Para tutores de baixa renda, isso representa uma dificuldade econômica significativa. Além disso, abrigos e organizações de resgate enfrentam custos elevados para tratar animais infectados e implementar medidas de controle. - Pressão sobre clínicas e abrigos veterinários
Durante surtos, clínicas e abrigos enfrentam sobrecarga de trabalho, tanto no cuidado de animais doentes quanto na implementação de protocolos de isolamento e desinfecção para evitar a disseminação do vírus. - Educação e conscientização
O impacto da cinomose reforça a necessidade de campanhas educativas para incentivar a vacinação, principalmente em comunidades com menos acesso a serviços veterinários. Sem uma conscientização ampla, a doença continua sendo uma ameaça constante.
Saúde pública e bem-estar animal
A cinomose não afeta apenas a saúde individual dos cães, mas também tem repercussões amplas na convivência entre humanos e animais. A presença de cães doentes em comunidades urbanas pode causar preocupação entre os tutores, prejudicando a relação de confiança com animais de estimação.
Por isso, a cinomose não é apenas uma questão clínica, mas também social e econômica, demandando esforços conjuntos de veterinários, organizações de proteção animal e gestores públicos para seu controle e prevenção.
Estudos de casos clínicos
A cinomose canina é uma doença viral que pode se manifestar de diversas formas, dependendo da resposta imunológica do animal e da virulência da cepa envolvida. Estudos de casos clínicos fornecem insights valiosos sobre a progressão da doença e as abordagens terapêuticas utilizadas.
Por exemplo, um relato de caso publicado pela Universidade Luterana do Brasil (CEULP/ULBRA) detalha a evolução clínica de um cão jovem acometido por cinomose. O estudo descreve os sinais clínicos apresentados, os métodos diagnósticos empregados e o tratamento instituído, oferecendo uma visão prática sobre a gestão da doença em ambiente clínico.
Referências Bibliográficas
Artigos científicos e publicações especializadas
- Appel, M. J., & Summers, B. A. (1995). Pathogenesis of Canine Distemper Virus. Journal of Clinical Microbiology, 33(2), 103–119.
- Greene, C. E., & Vandevelde, M. (2011). Distemper. In: Infectious Diseases of the Dog and Cat. Elsevier, 25–41.
- Loots, A. K., et al. (2017). Advances in Canine Distemper Virus Pathogenesis Research: A Comprehensive Review. Veterinary Microbiology, 213, 1–10.
- Martella, V., et al. (2008). Canine Distemper Virus in Animals: Current Status and Future Perspectives. Veterinary Research, 39(5), 54.
- Kapil, S., & Yeary, T. J. (2011). Canine Distemper Spillover in Domestic Dogs from Urban to Rural Populations: Implications for Wildlife. Veterinary Record, 169(6), 147–152.
Fontes recomendadas para leitura adicional
- World Small Animal Veterinary Association (WSAVA): Diretrizes para prevenção e manejo de doenças infecciosas em cães e gatos.
Site: https://wsava.org/ - American Veterinary Medical Association (AVMA): Informações detalhadas sobre doenças infecciosas em animais.
Site: https://www.avma.org/ - Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Informações sobre doenças zoonóticas e prevenção de enfermidades.
Site: https://www.cdc.gov/ - PetMD: Artigos educativos para tutores sobre cuidados e prevenção de doenças.
Site: https://www.petmd.com/
Aviso Importante
Este artigo foi elaborado com base em fontes confiáveis e informações científicas, mas não substitui a consulta com um médico veterinário. Se o seu cão apresentar sinais de cinomose ou qualquer outro problema de saúde, procure imediatamente um profissional qualificado para diagnóstico e tratamento adequados. A saúde do seu pet é prioridade! 😊